O que faz o bom professor de língua materna e quais os desafios de sala de aula?

No Dia Internacional da Língua Materna, professor fala sobre a importância em formar bons professores na língua, tendo em vista o respeito à diversidade linguística e cultural.

Já dizia Paulo Freire que “quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender”. A língua portuguesa, em sua vasta variedade de conteúdos didáticos, pode confundir o professor de línguas ao iniciar seu trabalho docente. Gramática, compreensão de textos, leitura? Essas e outras perguntas têm gerado interessantes reflexões a respeito da adequada formação pedagógica do professor de língua materna, levando em consideração a diversidade linguística e cultural presente no cotidiano do aluno.

Ciente disso, perguntamos ao professor Alex de Britto Rodrigues, professor de Linguística da Uniandrade, para comentar sobre boas práticas docentes e como os futuros professores podem enfrentar os desafios da sala de aula.

Qual a importância da língua materna e a conscientização dessa data?

Primeiramente, a data advém de uma motivação mais política do que especificamente linguística. A criação parte da UNESCO em detrimento às relações de poder e imposição da língua que alguns povos emitiam sobre outros. Logo, a função da data é conscientizar e valorizar todas as línguas existentes. Vale ressaltar que não apenas a representação simbólica de um decreto pode influenciar no respeito à diversidade linguística e cultural, mas sim a representatividade e o estigma que os falantes dão às suas línguas. A exemplo disso se toma como referência o prestígio da língua portuguesa nas conquistas ultramarinas de Portugal e, atualmente, o inglês e o mandarim como idiomas manifestos ao comércio exterior. Esses são temas tratados na área da Política Linguística.

O que é necessário para ser um bom professor de língua materna?

O bom professor é aquele que respeita a linguagem do aluno. Não há como negar que é importante ensinar ao educando a norma padrão da língua materna, mas principalmente remeter ao aluno em quais condições este pode fazer uso dela. A adequação linguística é importante no sentido de demonstrar ao estudante que existem variantes mais prestigiadas que outras e que isso não é professor que impõe, mas a sociedade ao qual esse sujeito está inserido. Gosto do termo muito usado por linguistas de que “devemos ser poliglotas na própria língua”, pois a variante que o aluno usa em sala dá pistas de como trabalhar com as comparações linguísticas sem constrangê-lo ou dizer que ele está simplesmente “falando errado”.

Aos profissionais ingressantes à docência de língua materna, quais os desafios enfrentados em sala de aula e como superá-los?

Os maiores desafios encontrados por estes profissionais ingressantes na docência de língua materna é saber identificar onde estão os problemas técnicos na gramática. Em outras palavras, a gramática pode ser estudada de duas formas: Gramática Prescritiva, na qual o juízo de valor impõe o correto ao falante; e a Linguística, cujo teor é científico baseado nas condições de uso dos seus falantes. Portanto, saber trabalhar com essas duas vertentes, além de obter um conhecimento técnico apurado sobre a língua estudada, é garantia de uma boa formação acadêmico-científica. Também isso é interessante no sentido de fazer o aluno entender explicações mais consistentes a respeito da língua e na ampliação de seu repertório.

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